sexta-feira, 31 de julho de 2009

Dá para prevenir
Fique de olho em algumas situações inesperadas que podem atrapalhar o sonho de erguer uma casa e saiba como fugir delas.

Para fazer esta reportagem pedimos a alguns leitores que relatassem os principais imprevistos que tiveram em suas construções – desde a compra do terreno até a colocação dos revestimentos. Problemas que nunca passam pela cabeça de quem é marinheiro de primeira viagem, como entraves com a documentação do terreno, com a mão-de-obra ou a compra de materiais.
Montamos então este roteiro que serve como prevenção a quem está entrando de corpo e alma na obra.

FATOR-SURPRESA: mudanças no perfil da região
Tudo começa com a compra do lote. Muita gente adquire a área e só depois descobre que há restrições para levantar a casa no local – como certos recuos estabelecidos pela prefeitura da cidade. Mudanças na lei de zoneamento também podem pegar o comparador desprevenido, transformando uma área estritamente residencial num lugar repleto de pontos comerciais e edifícios altos.
PREPARE-SE: antes de adquirir o terreno, informe-se na prefeitura sobre as normas para a construção na região. Pergunte sobre os recuos estabelecidos – nas partes laterais, na frontal e no fundo – e tenha a dimensão correta do que pode construir ali. Na prefeitura, você obtém ainda informações sobre possíveis mudanças na lei de zoneamento de sua cidade. Vale ver também se o lote está numa área de proteção ambiental, caso em que costuma haver uma série de limitações para o projeto.

FATOR-SURPRESA: infra-estrutura é precária no local
Energia elétrica e rede de água e esgoto são essenciais se você quer contar com esses confortos durante e depois da construção. Mas nem sempre elas estão disponíveis. Providenciar isso pode demandar um tempo incalculável.
PREPARE-SE: antes mesmo de comprar um lote, consulte os vizinhos e as empresas de água, energia elétrica e rede de esgoto sobre o fornecimento DESSES SERVIÇOS NO LOCA. Se houver redes disponíveis na rua, você poderá pedir às empresas responsáveis uma ligação para sua casa. Se não estiver disponível na rua, mas sim na região, é possível requerer uma extensão. De qualquer forma, o importante é saber os prazos para que isso aconteça. Quando o assunto é energia elétrica, há muitas regiões do país excluídas do fornecimento. O governo federal pretende prover 2 milhões de residências rurais e 500mil nas periferias urbanas (programa Luz para Todos) até 2008 (veja se sua área de interesse está nesse planejamento). Se não houver possibilidade de contar com todos esses serviços públicos, você terá que procurar alternativas, como fossas, poços artesianos e geradores de energia, que poderão viabilizar ou não sua construção. No caso do gás, se não existe rede na sua rua, há botijões como opção, que abastecem até geladeiras.

FATOR-SURPRESA: problemas na relação com o arquiteto

Às vezes se escolhe um profissional, mas infelizmente não rola sintonia de idéias. A situação chega a um impasse.
PREPARE-SE: antes de fechar com o arquiteto, estude seu currículo, visite as obras que ele fez, converse com clientes e verifique se o trabalho dele bate com suas expectativas. E procure ser flexível. Um profissional tem um olhar treinado para encontrar soluções mais eficientes, que um leigo muitas vezes nem imaginava. “As duas partes não podem ser radicais. O cliente não pode vir com o projeto pronto e acabado e o profissional não pode ser irredutível nas suas idéias” diz Gilberto Belleza, vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Caso não haja mesmo compatibilidade com o arquiteto, procure outro. Mas, se isso ocorrer no meio da obra, tenha um contrato com ele assinado desde o começo prevendo o que será feito em caso de desistência.

FATOR-SURPRESA: desembolso com projetos complementares
Se você conta só em gastar com os projetos arquitetônico e estrutural, saiba que não dá para abrir mão do projeto de elétrica (que vai determinar os pontos de eletricidade da casa), de hidráulica (os pontos de água) e de esgoto.
PREPARE-SE: reserve cerca de 5% do custo da obra para esses projetos, que serão feitos por engenheiros. Em geral, eles são subcontratados pelo arquiteto. “Apesar do gasto extra, ao longo do tempo eles se pagam, pois, além de proporcionar segurança, farão sua casa funcionar melhor e ter menos manutenção” afirma Carlos Verna, professor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). O arquiteto tem de dialogar com esses engenheiros para que não haja incompatibilidade entre os projetos.

FATOR-SURPRESA: topografia e solo complicados
Eis uma situação mais freqüente do que se pensa: ao começar a construção, você encontra debaixo da superfície do solo um lençol freático ou uma pedra, por exemplo. Isso atrasa o cronograma e o obriga a rever todo o projeto e custo.
PREPARE-SE: antes de iniciar a obra, faça o levantamento topográfico e a sondagem do terreno. Ela determina a capacidade do terreno de suportar cargas. O levantamento topográfico, o formato e a inclinação. “Essas informações são essenciais para o projeto”diz Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Universidade de São Paulo (USP). O custo deles, juntos, é de 3% a 5% do valor total do orçamento. É pouco, comparado à dor de cabeça que se pode ter depois. “Se houver um lençol freático no nível do solo, será necessária uma drenagem para evitar rachaduras que comprometeram a estrutura”, fala Ubiraci.

FATOR-SURPRESA: dificuldades para tirar o alvará
Um fiscal da prefeitura aparece e manda interromper a obra. Além de você pagar uma multa, os trabalhos são paralisados por falhas na documentação.
PREPARE-SE: para tirar o alvará, é preciso apresentar o projeto, o IPTU quitado, a escritura do terreno e outros documentos, além do pagamento de taxas. O projeto deve respeitar as legislações federal, estadual e municipal. Para não se enroscar na papelada, delegue a tarefa ao arquiteto ou ao engenheiro civil responsável, que organizará os documentos (isso pode ser ou não incluído no pacote do projeto, conforme negociação com o profissional).

FATOR-SURPRESA: onda de atrasos devido a mudanças no projeto
No meio da construção, muitas pessoas alteram o que já estava definido. As etapas começam a se encavalar, vêm os atrasos e o orçamento estoura.
PREPARE-SE: o custo da obra está diretamente ligado à metragem quadrada do que se quer construir. Por isso, é importante transmitir ao arquiteto ou engenheiro exatamente aquilo que se quer e quanto se pode gastar. Com base nessas informações, o profissional elabora o projeto detalhado, o cronograma e o orçamento. Da alvenaria ao revestimento, tudo deve estar discriminado com dimensões especificadas. Assim, as tarefas seguirão uma ordem lógica. “A pior coisa é mudar o projeto no meio da obra. Encarece o trabalho e demora mais. Como todas as etapas estão amarradas, quando você mexe num ponto, gera conseqüências em todo o resto”, afirma Belleza.

FATOR-SURPRESA: a autogestão não deu certa
Para economizar, é comum o proprietário gerenciar os trabalhos ou delegar essa função ao mestre-de-obras. No entanto, surgem problemas que não dá para resolver sozinho. Mais atraso no cronograma e gastos fora do controle.
PREPARE-SE: Contrate um arquiteto ou um engenheiro civil para gerenciar e fiscalizar a empreitada. Ele vai checar se o cronograma e o projeto estão sendo cumpridos. Somente um profissional especializado, com experiência terá condições de ler o projeto e executá-lo da melhor maneira possível, sabendo como resolver os problemas que podem aparecer ao longo do caminho.

FATOR-SURPRESA: mão-de-obra abaixo da expectativa
Muitas reclamações dizem respeito à qualidade do serviço. Os pedreiros são desleixados, não fazem o que lhes foi pedido e demoram a executar as tarefas. Você faz o pagamento adiantado e eles desaparecem.
PREPARE-SE: pesquise antes de contratar a mão-de-obra. Verifique se não há dívidas pendentes ou reclamações contra a empreiteira em órgãos como o Procon e o Serasa. Se for contratar diretamente os trabalhadores (pedreiro, eletricista, marceneiro, encanador), procure a indicação de quem já utilizou os serviços. Faça um contrato, seja com a empreiteira, seja com funcionários autônomos – registre-os e pague os impostos devidos, evitando ação trabalhista no futuro (parte do valor poderá ser abatida na declaração de imposto de renda). Coloque cláusulas para se proteger de eventuais problemas de execução. Da empreiteira, exija nota fiscal. Não pague a mão-de-obra adiantada, pois um mau profissional, ao receber o pagamento, vai sumir antes de terminar o serviço.


FATOR-SURPRESA: o material que recebi não é o que comprei
Ao verificar a quantidade e os valores, percebe-se que eles não batem com o que você adquiriu. A data também não foi cumprida.
PREPARE-SE: se não puder estar no local para receber o produto, oriente o mestre-de-obras, o pedreiro ou um parente para verificar cada item, a quantidade e os valores. Se a pessoa detectar diferenças, não deverá assinar o recebimento nem ficar com o produto. No verso da nota fiscal, deverá anotar as irregularidades. Peça à loja a substituição ou complementação do produto ou a restituição do pagamento. Não solucionando o problema, recorra ao Procon de sua cidade.



“Minha casa, perto da capital paulista, é um misto de madeira e alvenaria com pedras e tem uma planta oval. Tive de gerenciar o ânimo entre o carpinteiro e o pedreiro, pois o cronograma e o sistema adotado para a construção exigiam andamento em conjunto. Intempéries, dificuldades de manuseio dos grandes pilares, do madeiramento curvo e de interpretação dos desenhos feitos no computador exigiram que eu e o arquiteto usássemos muita psicologia com a mão-de-obra. Conseguimos superar tudo com algumas happy hours, cerveja e churrascos no loca, quando falávamos dos desafios que iam aparecendo. Se todos não tivessem se comprometido além do exigido profissionalmente, não teríamos atingido um resultado tão bom”.
Arnaldo, São Paulo.



“Durante a reforma da nossa casa, eu e o meu marido decidimos que a parte elétrica e hidráulica seria feita pelo próprio mestre-de-obras, pois achávamos que isso sairia mais barato que a contratação de serviços especializados. Mas o barato saiu caro. Após a reforma, tivemos problemas com a fiação elétrica e levávamos choque pela casa inteira. Tivemos que refazer toda a fiação. Gastamos quase 10% do valor da reforma só para desentupir um cano de 12m de comprimento, onde os pedreiros jogavam restos de material de construção, tinta e cimento”.
Lisa, São Paulo.






“Levei o engenheiro para ver o terreno, e ele calculou que o lote tinha 1m de declive. Comecei a planejar uma construção plana, já que o desnível era pequeno. Não fiz sondagem nem levantamento topográfico. Na primeira visita ao local, o pedreiro me perguntou por que não pensei em ter uma garagem na parte de baixo. Expliquei que não mexeria com aterramento por causa de um ínfimo desnível.
Na hora, ele mediu a diferença utilizando o método da mangueira transparente com água. Descobri que o desnível era de 2,70m. Com as plantas prontas e aprovadas na prefeitura ’engoli’ o projeto e fiz a casa em dois níveis, separados por escadaria. Hoje, isso me deixa triste. Uma garagem na parte de baixo teria resolvido vários problemas de espaço”.
Geraldo, Guapiaçu, SP.


“Passei por vários imprevistos, mesmo contando com engenheiro e mestre-de-obras bons. Um deles diz respeito aos prazos combinados, que não se cumpriram. Além disso, compramos portas e janelas de demolição e algumas peças tinham tamanhos incompatíveis com o projeto. Tiveram de ser ajustadas às medidas definidas ou a construção se adequou a elas. Fica o alerta: as dimensões do projeto têm de ser seguidas. Também houve atrasos por causa dos acabamentos. Moramos numa cidade de porte médio, e as opções são restritas.
Recorremos a cidades maiores ou à capital para comprá-los, e era difícil conciliar nosso horário de trabalho com o das lojas”.
Paula, Viçosa, MG.


“Reformei meu apartamento sem arquiteto nem engenheiro – contratei uma empreiteira que estava trabalhando no meu prédio.
A reforma virou um pesadelo.
Prevista para três meses, durou seis. O pedreiro pedia muito material, eu comprava e acabava sobrando. Uma porta e uma janela foram destruídas. Meu banheiro inundou porque pedaços de azulejo e terra entupiram o ralo. O pintor recebeu o pagamento e sumiu sem concluir o serviço”.
Isabelle, São Paulo.

Um comentário:

  1. Olá!
    Comprei uma sobreposta, a 2 anos e agora começaram a aparecer os problemas, os cupins estão aparecendo em toda parte da casa, portas, batentes dentro das tomadas. O que devemos fazer?Falei com o construtor e ele disse que não tem nada ver com isso.Á casa tem garantia de 5 anos e cobre esse tipo de problemas, inclusive os danos materiais?

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